quarta-feira, 15 de junho de 2016

Um movimento democrático gaúcho chamado greve, por Sandro R. Cossetin



Um movimento democrático gaúcho chamado greve

Sandro R. Cossetin
Professor

                Os movimentos democráticos, em especial as greves, são frequentemente identificados como paralisantes, inconvenientes e antissociais. Não podiam ser diferentes. São movimentos que, na sua essência, pressupõem um embate com o poder. Na política, a reivindicação do cidadão é sempre uma pedra no sapato do gestor público. Pedra que ele sabe que vai estar no sapato que vai calçar ao assumir o cargo, mas sempre quer fazer de conta que essa possibilidade não há. Na condição de situação é um problema, na condição de oposição é uma solução.

                Obviamente que, quando o assunto é a negociação acerca da reinvindicação, é mais fácil calar e muito cômodo argumentar alegando falta de entendimento, orçamento restrito, problema herdado dos antecessores... Sempre foi assim: “aceitamos sugestões”; “vivemos em uma democracia”. Desculpas esfarrapadas (velhas conhecidas!) e responsabilidades não assumidas.

                Também é triste ver quando a classe que historicamente sofre com o descaso dos gestores públicos se encaminha para o conformismo diante da ação de forças políticas que pretendem privatizar o que podem.

                A nível estadual, recentemente uma proposta foi apresentada pelo atual governo defendendo que a gestão de alguns entes públicos estaduais deve ser delegada à organizações sociais. No meu entender, uma afronta à sociedade. A proposição envolve algumas atividades de responsabilidade constitucionalmente pública do executivo, mas, curiosamente, não envolve o legislativo e o judiciário. Tal proposta consta no PL 44/2016 e seria cômica se não fosse trágica.
                Um projeto reducionista e sem qualquer perspectiva quanto a proporcionar melhorias à sociedade gaúcha. Proposições que demonstram a incompetência da presente gestão, entregado recursos públicos a outrem. Uma proposta contraditória, pois faz a gestão dos três poderes que recebem recursos do mesmo cofre, mas mantém dois intocáveis. A distinção entre as atividades, os orçamentos e o reconhecimento são notáveis.

           Às vésperas do dia 15 de outubro de cada ano, o discurso predominante e conveniente ressurge: “graças a minha professora, hoje eu sei ler e escrever; graças aos meus professores, eu cheguei aonde cheguei”. Os educadores sofreriam menos se nunca tivessem escutado tais demagogias, pois o reconhecimento legítimo que esperam nunca se revela nas ações dos demagogos – hoje gestores – que as expressam.

                     Um contexto lamentável, pois “Liberdade, Igualdade, Humanidade” parece não fazer mais parte da bandeira gaúcha. Principalmente pelo “prenúncio de mau tempo” quando se reporta ironicamente à remuneração mínima de uma determinada classe de profissionais: “quer piso, eu vou na T....” (https://www.youtube.com/watch?v=1Y0TuC25YCA).

               Já ouvimos isso antes: manifestações em prol de melhores condições de trabalho, não só na educação, mas também, na segurança, na saúde, são sempre vistas como anarquistas, rebeldes e oposicionistas. Como dizem os mais antigos: “dependendo do lado do balcão que se está, tal preço pode ser justo ou não”.


            Assim, nos deparamos diante de tentativas de diminuir os cidadãos a meros fantoches. Nessas ocasiões, parece não ser mais necessário cantar: “Mas não basta pra ser livre, ser forte, aguerrido e bravo; povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Afinal, na condição de escravo, não é mais necessário ter educação, saúde, segurança, cultura, lazer... desconfio que até mesmo viver.

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