segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Texto do Jornal Sul 21: Sartori: do nada, veio o mais nada

26/fev./2015, 8h28min

Sartori: do nada, veio o mais nada


Frente às inúmeras críticas acerca de seu imobilismo, vindas até do próprio PMDB, imerso na disputa interna pelo controle do Diretório Estadual do partido, Sartori fez saber, por seus canais habituais de imprensa, que estava a estudar um conjunto de medidas para dar início ao saneamento econômico-financeiro do estado, que seriam divulgadas após o carnaval. Pois o carnaval veio, passou, e só o que houve foi um almoço do governador com jornalistas convidados, de onde não surgiu qualquer medida. Pior, a ênfase passada pelo governador neste almoço à possibilidade das Parcerias Público-Privadas (PPP) como solução para o crescimento do estado é bastante preocupante , eis que num ambiente de insegurança econômica e recessão como o que ora vivemos , este tipo de investimento , que normalmente já é lento em sua maturação, muito provavelmente não conseguirá ter implementação expressiva no próximo quadriênio. Sartori continua a dar mostras que não está a entender o momento em que vive.
Sentindo a fragilidade de sua posição política, Sartori fez com que alguns deputados do PMDB passassem à ofensiva, expressando uma posição que, em resumo, se calca em dois pontos: a) atacar a oposição, dizendo que esta se limita a criticar, sem apresentar propostas e b) justificar Sartori dizendo que ele está a fazer o mesmo que Dilma e Joaquim Levy. Nenhum destes argumentos, porém, consegue prosperar.
Em primeiro lugar, não é a tarefa precípua da oposição apresentar propostas. Mas ainda teria sentido exigir-lhe alternativas concretas se o governo tivesse ele apresentado alguma proposta! Chega às raias do ridículo um Governo que em dois meses não apresentou uma única medida objetiva para a reorganização financeira e para o crescimento econômico do estado criticar a oposição… porque não apresentou propostas!
E em segundo lugar, muito embora as medidas recessivas de Joaquim Levy não mereçam muita defesa, particularmente pela distribuição desigual do peso da crise, muito maior sobre as costas dos trabalhadores e setores inferiores da classe média , não se pode deixar de reconhecer que o programa federal de austeridade está inserido numa estratégia de recuperação econômica. O governo da União busca estancar gargalos (como o seguro desemprego) e retirar subsídios (como o da energia elétrica) para obter equilíbrio fiscal , sem cortar os programas sociais e os investimentos da PAC. Tem princípio, meio e fim, ainda que muito discutíveis. Nada disso acontece no governo Sartori. Não há um programa de recuperação econômica, não há uma seleção de cortes a fazer nem de gastos a serem utilizados como incentivo ao crescimento do estado. No Rio Grande do Sul, até o momento, não há nada. Não é a mesma coisa, pois, que Dilma e Joaquim Levy.
O único anúncio concreto do governo foi a criação de uma caravana pelo Rio Grande para “esclarecer a real situação das finanças do estado”, junto de uma campanha publicitária neste sentido. À parte o fato de indicar que com ou sem política de austeridade, Sartori já está a recuperar o fluxo de caixa para grande imprensa que o blinda , eis que todo apoio político tem um preço , a opção por esta caravana é uma aposta de alto risco.
Esta caravana tende a se tornar uma campanha pública anti-PT, que pode incluir até atrasar os salários ainda em abril ou maio, para poder, com a ajuda da imprensa já novamente paga , atirar a responsabilidade sobre o governo Tarso. Muitos líderes do próprio PMDB e de sua base aliada alertam para o risco desta estratégia. Para o povo , não importa muito o culpado da crise, mas sim quem tem a capacidade de resolvê-la. E será Sartori quem vai atrasar os salários, quem quer que seja o culpado por isto. Ademais, uma “ caravana de más notícias”, deprimindo ainda mais o ambiente político do estado , pode ter um efeito bumerangue sobre o prestígio dos grupos que estão no governo. E esta estratégia tem ainda a consequência de grudar o governo do estado na campanha nacional anti-PT, agregando mais incerteza à já complexa conjuntura local. Não faz bem a nenhum estado nacionalizar sua arena política interna. Alckmin é um bom exemplo de como buscar evitar isto.
Enfim, Sartori criou a expectativa de que daria vazão a seu programa de austeridade após o carnaval e não conseguiu fazê-lo. Acuado, para sair da paralisia política, opta por vitimar-se e confrontar o PT , numa estratégia de alto risco, contestada por seus próprios aliados , que deprime o ambiente político, nacionaliza o debate local e amplia as incertezas da conjuntura. Neste imbróglio, só o que não há é um mínimo projeto para tirar o estado de sua crise. O povo gaúcho que se exploda.
Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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